quinta-feira, 17 de junho de 2010

O próximo passo

Hoje acordei diferente, até mais descansada, arrisco dizer, mas com o peito ainda contraído do que acontecera na noite anterior. Parecia um sonho, daqueles ruins que você quer acordar e não consegue. O estranho é que eu deveria estar mais triste, mais ansiosa, mais vunerável, mas estou apenas vazia.

Levantei da cama, coloquei o café na mesa, saí rumo ao meu trabalho. No meio do caminho, a unica coisa que em incomodava, era o choro inconsolado do meu filho querendo voltar pra casa. O pensamento ia e voltava. A manhã passou desatenta e o relógio marcava 11h30 quando entendi o que precisava fazer.

Escrevi o que sentia e as teclas obedeciam apenas ao comando da meu coração. Ao final uma pequena dúvida, se apertava ou não o enter. Respirei fundo e apertei o botão. Certo, agora o próximo passo. Eu ainda não sei qual é, mas talvez, até o final do dia eu consiga descobrir

terça-feira, 15 de junho de 2010

Da aprendizagem


sentou-se para descansar e em breve fazia de conta que era uma mulher azul porque o crepúsculo mais tarde talvez fosse azul, faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações, faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos, faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade... faz de conta que vivia e não estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte, faz de conta que ela não ficava de braços caídos na perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desafazer o fino fio frio... faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua pois ela era lunar, faz de conta que ela fechasse os olhos e seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos de gratidão, faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta, faz de conta que se descontría o peito e uma luz douradíssima e leve a guiava por uma floresta de açudes mudos e de tranquilas mortalidades, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro

(Clarice Lispector, Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Nada é pra sempre

É verdade, por menos que eu e você queira, nada dura pra sempre. Eu não acreditava muito nisso, porque fiz parte de uma cena que considerava maior do que tudo. Era amor, amizade, companheirismo, era tudo. Mas era, não é mais. Sobrou tristeza, dedo em riste repleto de cobranças, sobrou os cacos da minha vida espalhados pelo chão da casa.

Como dá trabalho juntar tantos cacos e, quando você pensa que acabou, pisa em um bem pequenininho. Ah, como dói! É durante a faxina que encontro milhares desses caquinhos. Aqui e ali acho uns e outros. Lembranças, lágrimas e a solidão que vem com sua lava quente cobrindo tudo (assim mesmo, como no samba).

Mas como nada é para sempre, até mesmo os cacos se acabam e de repente me descubro vivendo outra vida, desejando um outro futuro. O resto fica na saudade.

sábado, 24 de abril de 2010

A vida continua...

Carrego o mal da descontinuidade. Começo e não termino quase tudo na minha vida e pela primeira vez estou enfrentando a conclusão de um ciclo. Fase dificil essa. Quando as coisas perdem sentido e a vida parece menos colorida.

Tento me segurar nas possibilidades do futuro. Tenho conseguido, mas não é tão simples assim me livrar dos planos que foram traçados e das cobranças de alguns anos de espera para concretizar um sonho.

De todo modo a vida continua e, nesta nova fase, pretendo tirar da minha bagagem o peso da descontinuidade. Vamos em frente.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Epifania

Em viagem a Quixadá no último final de semana, tive uma forte experiência com a realidade do sertão cearense. A princípio virei o rosto para aqueles que julgava diferentes e até indignos para dividir o mesmo ambiente que eu. Uma demonstração clara de como podemos ser estúpidos!

Experimentei uma sensação tão horrenda me correndo por dentro, que fui obrigada a virar o rosto e encarar a realidade de frente. Não só do Ceará, mas de um mundo injusto e segregador.

No momento em que tudo aconteceu estava ouvindo "Haiti" do Caetano Veloso e Gilberto Gil. Como não encontrei uma versão que prestasse pra colocar no blog, lembrei dessa música delicadíssima da Marisa Monte.